quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Como foi mudada a data de fundação do FC Porto?!

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 Antes, em 1987, outro grupo brota do nada e dá uma grande vitória a Pinto da Costa. Por essa altura é lançdo um livro, "Fotobiografia do FC Porto", de Rui Guedes, onde Pinto da Costa vê dados que apontam para a fundação do clube, não em 1906, como se pensava e estava nos estatutos, mas treze anos antes, em 1893. É então convocada uma assembleia-geral com apenas 2 assuntos: aumento de quotas e "exposição de factos novos sobre o historial do clube".
Preparado, Pinto da Costa sugere a criação de uma "comissão para estudar o tema", como se lê nos jornais da altura. Composta por oito elementos, seis deles propostos pelo próprio presidente. Os seis (Sardoeira Pinto, Guilherme Aguiar, Armando Pimentel, Álvaro Pinto, Joaquim Tamagnini Barbosa e Custódio Castro) são seus apoiantes, fazendo inclusive parte de orgãos sociais eleitos nas suas listas. Oito meses depois, a matéria de prova apurada pela Comissão inclina-se, sem surpresa, para a data mais antiga. Convoca-se então uma assembleia-geral extraordinária, onde um dos pontos é a "comunicação à assembleia-geral das conclusões obtidas pela Comissão nomeada para a problemática da fundação do clube..." Tudo normal, não fosse a frase continuar:"... e consequentemente apresentação da proposta de alteração do artigo 1º dos estatutos". Este muito subtil 2 em 1 não leva a grandes discussões na assembleia. A única dúvida é se a alteração é assumida de peito feito ou meio envergonhada. Vejamos porquê.
 A Comissão encontrou de facto provas de que tinha sido fundado em 1893 um "Foot-Ball Club do Porto". Por razões familiares, três anos depois, o fundador Nicolau de Almeida, desiste do projecto. E o clube termina. Anos mais tarde, em 1906, aparece José Monteiro da Costa a querer fundar um clube na cidade. E ressuscita o tal Foot-Ball Club do Porto. Daqui a Comissão conclui que, quando o clube nasceu em 1906, já tinha nascido em 1893.
É uma teoria bastante controversa. Veja-se que, seguindo este precedente, qualquer um pode ressuscitar um clube que já morreu há muitos anos e contar-lhe a idade desta forma. A própria Comissão sabe disso, tem dúvidas, que se refletem na proposta que faz para o novo Artigo 1º dos estatutos: "O Futebol Clube do Porto, pessoa colectiva de direito privado e de Utilidade Pública, foi instituído na cidade do Porto em 2 de Agosto de 1906, tendo iniciado a sua actividade em 1893".
 Rui Guedes, autor do livro que desperta esta questão, não gosta da proposta. Acha-a "ambígua" (e, diga-se, tem toda a razão, mas como pôr em prática uma teoria ambígua sem se ser ambíguo?). Pianista de formação, Rui Guedes traz "a pauta bem estudada" (como se lê no Record dois dias depois). Pede a palavra e começa por dizer que "as provas não agradarão a benfiquistas, boavisteiros e até alguns portistas..." Depois, postas as coisas nestes termos, avança coma sua proposta, bem mais clara, sem ambiguidades: "O Futebol Clube do Porto, 
pessoa colectiva de direito privado e de Utilidade Pública, foi fundado na cidade do Porto no dia 28 de Setembro de 1893, tendo iniciado imediatamente a sua actividade." Sem surpresa, imediatamente os sócios votam e assim o FC Porto se torna o clube mais antigo de Portugal , ou, muito mais importante, mais antigo de que Benfica e Sporting.
 Para a história, o papel de Pinto da Costa neste processo de refundação é minimo. É essa a sensação clara que se tem da leitura dos jornais da altura. Quase se poderia dizer que ele não tem nada a ver com o assunto. Oficialmente, tudo foi estudado, proposto e decidido pelos sócios, mais ou menos anónimos.[...]

Fonte: As manobras de Pinto da Costa, de Marco Alves, páginas 34 e 35